Detalhes do fluído para direção hidráulica automobilísticos

O óleo da direção hidráulica é um dos fluídos mais desprezados por proprietários de veículos automotores e, até mesmo, por alguns profissionais especializados. Talvez, por causa da orientação do fabricante, que por vezes indica a troca apenas em casos de problemas. Mas o fato, é que o óleo da direção hidráulica, também chamado de óleo hidráulico ou fluído hidráulico, também precisa de atenção, tanto da parte do proprietário do veículo, como do reparador deste, que deverá estar apto a realizar a avaliação do óleo.

Dentro do sistema, o óleo percorre mangueiras, caixa de direção e reservatório pressurizado por uma bomba (leia mais). Portanto, existem tipos diferentes de óleos utilizados, prazos de troca (embora pouco referidos) e avaliações visuais do estado do óleo, que tanto o reparador como o proprietário devem saber.

Função

O sistema de direção básico é composto pela caixa de direção e as articulações que se ligam a as mangas de eixo. A caixa de direção nada mais é do que um caixa de engrenagens, e como tal, precisa de lubrificação. Em sistemas mecânicos, esta é realizada por óleos ou graxas específicas, mas em sistemas hidráulicos, o próprio óleo do sistema realiza a função de lubrificar a caixa de direção e, consequentemente, a bomba de direção hidráulica.

Entretanto, o óleo não apenas lubrifica, mas também ajuda no controle da temperatura dos componentes da caixa de direção. Sua principal função, é prover o auxílio hidráulico da caixa de direção, de modo que o condutor consiga realizar o esterçamento das rodas com um esforço adequado às determinadas situações. Para isso, o óleo deve ser o mais incompressível possível, para que possa transmitir totalmente a pressão da bomba direto no cilindro da caixa de direção.

Tipos

Diferente dos lubrificantes utilizados nos sistemas de freios e transmissão, o óleo utilizado no sistema de direção hidráulica não segue uma norma própria. Os fluídos são baseados nas exigências das normas DIN 51 524T3 e ISO 7308, que são normas para fluídos aplicados em sistemas de freio. Devido a grande exigência deste sistema para atributos como temperatura e pressão, bem como a manutenção deste a níveis aceitáveis, alguns fornecedores desenvolvem lubrificantes sintéticos baseados nessas normas, mas apenas para sistemas de direção hidráulica. Além disso, grande maioria das marcas de automóveis estipulam seus próprios requisitos aos fornecedores, que desenvolvem lubrificantes especificamente para seus sistemas de direção. Três tipos de fluídos para direção hidráulica são mais utilizados no mercado:

  • Óleos sintéticos;
  • Óleos minerais;
  • Fluídos para transmissão automática.
Óleo sintético para sistemas de direção hidráulica. Antes de utilizar, conferir no verso da embalagem se este atende as normas do fabricante. Crédito foto: http://19528-presscdn-0-54.pagely.netdna-cdn.com/

Os lubrificantes sintéticos são desenvolvidos em laboratório com formulação e aditivos próprios para o sistema de direção hidráulica. Em geral, são preparados para prover boa lubrificação a níveis baixos de temperatura se comparados com aplicações para cambio e freios. Este tipo de óleo para sistemas de direção hidráulica não deve ser misturado a outros tipos de óleo (ATF ou mineral), pois a mistura poderá reduzir seu desempenho e expor o sistema a desgastes prematuros.

O ATF (Automatic Transmission Fluid) é frequentemente utilizado em alguns sistema de direção hidráulica, pois suas características atendem as exigências do sistema. Crédito foto: http://dieselgiant.com/

Alguns sistemas de direção hidráulica são projetados de forma a estarem aptos a operar com fluídos para transmissão automática (ATF), que é um fluído de coloração vermelha tendendo ao rosa.
Em outros casos, o óleo mineral padrão para sistemas hidráulicos é utilizado, sendo este adequado a diversos sistemas de direção hidráulica, pois atende aos requisitos de diversas marcas.
De qualquer forma, cada sistema de direção utiliza um óleo diferente, sendo este capaz de prover boa lubrificação da bomba e caixa de direção, protege-los contra corrosão e garantir bom funcionamento do sistema de direção hidráulica em qualquer situação.

Funcionamento

Ciclo de trabalho do óleo da direção hidráulica. Crédito foto: http://www.agcoauto.com/

A principal característica do óleo da direção hidráulica é ser incompressível (como o fluído de freio), ou seja, uma vez pressurizado pela bomba, o óleo vai transmitir toda essa pressão diretamente na caixa de direção. Quando a bomba começa a funcionar, o óleo contido no reservatório é sugado, dentro da bomba o óleo é comprimido, mas ao mesmo tempo, seu poder lubrificante ajuda a bomba a manter uma vida útil longa, reduzindo atritos internos, consequentemente o desgaste e aumentos excessivos de temperatura. Após comprimido, o óleo segue para a caixa de direção através de mangueiras resistentes a pressão do sistema. O óleo entra na caixa de direção e empurra o pistão, efetuando o auxílio hidráulico. Enquanto isso, o óleo do outro lado do pistão escapa para o reservatório, e dessa forma mantém o nível deste sempre dentro do especificado. O atrito dos componentes internos da bomba e da caixa de direção, geram calor, que é transferido para o óleo, este também está exposto a pressão do sistema, consequentemente a temperatura do óleo aumenta conforme aumenta a carga imposta sobre o sistema de direção. O óleo sofre uma pequena dilatação, percebida através do reservatório, pois o nível do óleo dentro deste, aumenta. Entretanto, se o sistema está abastecido com a quantidade correta de óleo, o aumento não altera o funcionamento do sistema.

Manutenção

Esta pequena cartilha mostra a coloração do óleo durante sua vida útil. A coloração mais escura quando este atinge o fim de seu ciclo se deve ao contato com o ar, oxidação, contaminação do sistema em virtude de pequenos vazamentos e farpas metálicas dos componentes móveis da bomba e caixa de direção. Crédito foto: http://www.gwrauto.com/

Dito no começo do artigo, o óleo utilizado no sistema de direção hidráulica é frequentemente desprezado por proprietários e técnicos, e isso ocorre pelo fato daquele operar dentro de um meio, de certa forma, pouco agressivo. Dentro do sistema de direção hidráulica não há reações termoquímicas significativas (combustão), portanto não há, também, temperatura e pressão excessivamente alta, tão pouco alteração molecular do óleo durante seu funcionamento. Dessa forma, algumas marcas automobilísticas se limitam a recomendar a troca apenas em casos de avaria no sistema. O tempo, a forma de guiar e as condições de uso do automóvel são fatores suficientes para não se obter uma estimativa precisa de quando o óleo do sistema de direção hidráulica deverá ser trocado por oxidação ou perda total de seus atributos. A medida que o veículo é utilizado, tanto a bomba como a caixa de direção soltam farpas de metal que são carregadas pelo óleo. Estas, a medida que aumentam sua concentração no óleo, podem desgastar o cilindro da caixa de direção e a câmara da bomba hidráulica, se alcançarem-na. Além disso, o próprio óleo tem seus atributos enfraquecidos com o tempo de uso, deixando os componentes do sistema de direção mais expostos a corrosão, a oxidação faz este perder sua capacidade de resistir a temperatura do sistema, até a coloração do óleo muda quando este encontra-se desgastado. A substituição do óleo da direção hidráulica é, na maioria dos casos, realizada quando algum componente do sistema precisa ser substituído. Neste processo o sistema deve ser aberto para a troca do componente defeituoso por um novo. Então, muitas marcas recomendam que seja substituído o óleo do sistema de direção hidráulica sob penalização de perda da garantia, no caso contrário. O motivo é evitar que os contaminantes contidos no óleo antigo danifiquem a caixa de direção e a bomba, principalmente.

Substituição do óleo do sistema de direção hidráulica

A indicação do nível de óleo dentro do reservatório pode estar na própria tampa ou escrito em alto relevo no corpo do reservatório.
Crédito foto: http://www.heqmanual.com/

O óleo velho deve ser drenado do reservatório, portanto as mangueiras são desconectadas do reservatório, e óleo, drenado. A mangueira que está ligada a bomba é reconectada ao reservatório e este abastecido com o óleo novo. O objetivo é utilizar esse óleo para empurrar o óleo velho, contido nos outros componentes do sistema, para fora. Para isso a mangueira de retorno, que conecta a caixa de direção ao reservatório, é direcionada para um recipiente. Então, o liga-se o motor deixando-o funcionar em marcha-lenta. Dessa forma, gira-se o volante de um lado para o outro, evitando bater nos batentes que limitam o giro da direção. O óleo será sugado do reservatório e empurrado para a caixa de direção. O óleo que sai da tubulação de retorno da caixa vaza para o recipiente acima citado. A medida que a bomba vai sugando o óleo do reservatório, o nível deste vai baixando, mas em hipótese nenhuma deve-se deixar que o reservatório seque totalmente. Caso contrário, o sistema será contaminado com ar. Quando o óleo novo começar a sair pela mangueira de retorno, então a mangueira de retorno deve ser conectada de volta no reservatório. Abasteça o reservatório até o nível máximo, mas nunca exceda esse nível, pois deve-se respeitar a dilatação do óleo, que quando ocorre, o faz aumentar de volume. Caso, por algum descuido, o ar venha a entrar no sistema, a bomba começará a apresentar ruídos em baixas rotações do motor e quando o volante é esterçado, indicando a presença de ar na bomba. Para expulsar o ar, basta continuar o procedimento acima, até que o óleo que sai pela mangueira de retorno deixe de apresentar bolhas de ar, e os ruídos, sessarem.

Referências

  • A. CROLA, David, Automotive Engineering Powertrain, Chassis System and Vehicle Body, Oxford, Elsevier, 2009. 835p;
  • GENTA, Giancarlo, MORELLO, Lorenzo, The Automotive Chassis Volume 1 Components Design, Torino, Editora Springer, 2009. 633p;
  • HEISSING, Bernd, ERSOY, Metin. Chassis Handbook – Fundamentals, Driving Dynamics, Components, Mechatronics, Perspectives, Germany, Vieweg+Teubner, 2011. 591p;
  • SENAI, Série Metódica Ocupacional;
  • BOSCH, Robert, Manual de Tecnologia Automotiva. 25.ed. Edgard Blücher LTDA, 2004. 1231p.